13.4.10

Guardo a chuva

Como uma mãe, a senhora do ponto de ônibus me avisa: “Ih, a chuva apertou e pelo visto essa vai demorar a passar!”

Não demoro, puxo a corda que faz soar a campainha. Espero em pé na porta de saída. Ele grita: “Tá cheio aqui. Não dá!” Mais para frente. Novamente, ele abre a porta. Saio.

Vejo a calçada. Coloco o pé. Dou cinco passos. Subo o degrau da calçada que vejo. Quando meu pé desce, ela não está mais lá. Os meus dedos, a sandália e eu submersa no Rio. A blusa branca e a bermuda colam sobre a pele. Nada nos guarda contra a Natureza.

Ouço: “Não vai moça!” Continuo. Chego na casa que está só. Banho quente, roupa fria, comida quente e sem sobremesa durmo.

Acordo e ainda falta. Um pedaço não chegou. Telefono. Dormiu no carro e no alto de algum lugar dessa cidade. Digo: “Quando você volta?”

As ruas da cidade dormem cheias de gente e de água. A lua é cheia. Frente fria e maré alta. Penso no mar que ainda está para se revoltar.

Ligo a Tevê. Os jornalistas e políticos, baseados nas informações tardias da meteorologia, pedem para ninguém sair de casa. Nada nos guarda contra a administração pública.

Porque ainda falta um pedaço, entro no site que informa o horário da maré vazia. "10:04". “Daqui à uma hora”, penso. O café é frio. Rezo. Se ele não chega, eu não saio. Nove horas e trinta e seis minutos. Desço três andares de escada, porque os jornalistas pedem para evitar o elevador. Bombeiros e defesa civil estão pra lá de ocupados.

A calçada e a Praça estão lá. Ligo: “Volta porque a hora é essa!”

Aline Gama

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