31.8.09

Violência com a praia

Piso na areia, pego sol, mergulho, tomo sucolé do Claudinho, como kibe do Mustafá e Camaretto, enquanto penso na resposta a pergunta da minha amiga paulista: “nossa, meu, por que dizem que o Rio é tão violento?”

Esqueço de responder...

Mas o telejornal da Band diz que “facções criminosas impõem medo nas praias cariocas”. Ela ri e diz que se a mãe dela viu, deve estar preocupada.

Veja e ouça você a reportagem no www.bandnews.band.com.br

Informo, então, que eu nunca vi, mas brigas entre gangues de diferentes favelas ou diferentes torcidas de times de futebol acontecem. O que falta na reportagem é coerência entre o texto da Cidade Partida e as imagens da Cidade Maravilhosa e ainda responder quando aconteceram as brigas, em quais praias e envolvendo quais facções.

Aline Gama

24.8.09

A imagem em questão II - "Yes, we can!"



Sou do tipo que fecha os olhos, franze a testa, aperta a almofada ou o braço ao lado e ainda viro o rosto diante de cenas de violência e terror, mesmo sendo o primeiro encontro ou a primeira ida ao cinema. Já ganhei abraços e beijos, mas também risos. Nunca sei se são pelo inusitado da reação espontânea ou por pena. Lamento ser sempre mais forte que eu, mas acredito naquilo que vejo.

Circulando entre as fotografias de Robert Polidori, no Instituto Moreira Salles, e do World Press Photo 09, na Caixa Cultural, vi muito mais destruição do que gostaria. Passei rápido pelas muitas imagens de sofrimento e parei diante das que realmente me comoviam. Nenhuma imagem me pareceu inédita. Nada de novo. O corpo sangrando, a lágrima, as paredes furadas pelas guerras, o grito e o choro congelados, a intensidade das cores da natureza, o caos de apartamentos e cidades habitados pelo homem e só.

Não que a ida às exposições não valha apena. É preciso ver e sentir o que nos falta em imagens, assim como o que nos sobra. A imagem não revelada é a do abraço entre amigos, do aperto de mão entre rivais, do beijo entre amantes, do olhar carinhoso entre estranhos ou da brincadeira de crianças. Enfim, Robert Doisneau!

Aline Gama
A bela foto de Michelle e Barack Obama é de Callie Shell. O primeiro lugar na categoria "People in the News".

17.8.09

Alberto, uma homenagem

Escrevo sobre Alberto.
Não o Alberto que se esconde em segredos.
Não o Alberto apaixonado por belas parisienses e brasileiras.
Não o Alberto que fala sem ser compreendido e
nem os ritos e os mitos de Alberto,
mas o que declara amor a humanidade em sua criação.
Não o Alberto que só sonha.
Não o Alberto preocupado com cálculos.
Não o Alberto que desconheço,
Não o Alberto mineiro e
nem o brasileiro e o francês,
mas o que projeta, constrói e experimenta.
Não o Alberto naturalista e Caeiro de Pessoa.
Não o Alberto transeunte de ruas e Carmens de João Paulo Cuenca.
Não o Alberto que encanta e
nem o Alberto não inventado por Julio Verne,
mas o pequeno Alberto que realiza o gigantesco sonho de voar.

Aline Gama sobre Alberto Santos Dumont.

9.8.09

Um instante II

Desejo o encontro. Caminho. Passo pela janela. Olho para dentro. Vejo a porta que abre. Está de verde e sorri. Não para mim. Sobressalto. Perco o chão. Só sinto. Continuo. Desgraço a sorte, mas torço pelo segundo instante. Nó na garganta. Lamento. Como se não quisesse, caminho.

Aline Gama

2.8.09

A imagem em questão

A: ola!
eu: oi, tudo bem?
A: tudo bem?
eu: tudo tranquilinho e vc?
A: tudo bem...você tem webcam?
eu: tenho
A: quer tentar uma experiência?
eu: quero...
A: vou ligar minha câmera..se der merda, vou reinicar o pc e te chamo de novo, ok?
eu: ta
A: então, vamos lá...
A vous invite à utiliser le chat audio et vidéo de Gmail. Rendez-vous sur http://mail.google.com/videochat pour démarrer.
A: ...você recebeu algum convite para fazer chat com vídeo?
eu: recebi
A: e ai? aceitou? aconteceu algo?
eu: sim...to fazendo. pediu p eu reiniciar os navegadores. tenho q sair e voltar
A: acho que você precisa se tornar visível, também vou fazer isso.

8 minutos

eu: oi
A: espera um pouco, eu estou te vendo já...faz cara de quem está sendo filmada...você esta me vendo?
eu: : P
A: não sei pq não está funcionando...eu tb estou te ouvindo, você acabou de falar ai, ai
eu: to nervosa de me ver aqui
A: que lindo sorriso...não sei o que está acontecendo.
eu: vc quer tentar me convidar p vê se rola?
A: não sei o que posso fazer mais...

3 minutos

eu: não te ouço, só vejo
A: eu te ouço...te vejo...

Que inferno! Que difícil! Acredito na proximidade. No olhar que olha a câmera e também vê a mim. Os olhos, a boca, a pele...Sem cheiro, sem gosto, sem calor, sem aquilo que vibra. A vida. Meus outros sentidos me confundem. Acredito sem experimentar a presença em sua completude. A presença da tela só me traz a ausência.

Aline Gama