29.12.08

O amanhã

Depois de um 2008 que não coube em 12 meses, assisto no Mothern:

- Mãe, o amanhã não vai chegar!
- Por quê, meu filho?
- O amanhã só vem depois que eu dormir e eu não estou conseguindo, então, o amanhã não vai chegar...


Ele sempre chega, sempre! Que venha 2009!!!


No boteco, Aline Gama

25.12.08

Querido Papai Noel,

Quero que você saiba que se muitas crianças cariocas deixaram de enviar suas cartas com pedidos de presentes e tantas outras deixaram de por suas meias e sapatos nas janelas é porque muitos adultos deixaram de fazer o dever de casa. Por causa deles, tais crianças passaram de ano sem saber escrever e ler e muitas nem possuem meias e sapatos para viver a magia do Natal.

Por isso, peço que cuide dos pequenos no ano vindouro. Proteja-as das armadilhas do dinheiro fácil vindo do trafico de drogas e do sexo. Faça com que tenham os alimentos necessários para o corpo e para alma.

Desejo ainda, Papai Noel, que o milagre do amor e da paz aconteça na vida de cada uma delas. Quanto aos adultos espero que a justiça seja feita.

Sem mais,

Aline Gama

22.12.08

carioca oficial x Carioca Oficioso

- Essa virada de ano está complicada com a crise! Tive não sei quantos amigos ocultos mais os presentes de Natal. Sabe como é começo de ano... Tem IPVA, IPTU, Imposto de Renda, além do material de colégio das crianças. Não há salário que chegue!

- E...Fala sério! Não tem essa de presente para todo mundo, não! Presente é só para os mais chegados. Dos amigos ocultos acabei selecionando dois: o dá firma e o da minha família. E você sabe... Lá onde moro não tem IPTU, luz, água, net, é tudo gato! Um brinde aos gatos!

– Você não é fácil!

– Miaaaauuuu!!!


Do boteco, Aline Gama

18.12.08

O abraço

Ele surge sem explicação. Para acontecer é preciso apenas que os dois corpos, o dele e o meu, ocupem o mesmo ambiente e se atraiam por tesão, carinho, paixão ou amizade. Pode ser no salão de festas da casa de uma amiga em comum, em um boteco ou uma pista de dança na Lapa, no corredor de uma escola ou de um shopping, ou até, no meio da rua ou dentro do carro. Antecede quase sempre o reconhecimento do encontro com um olhar ou um 'oi'. Apesar de sermos profissionais da palavra, nesse momento somos silêncio.

Sou só eu e ele! Os braços se enroscam, as mãos se espalmam e apertam o outro corpo. Coração escuta coração. Nada mais existe. O samba descompassado no meio de nós. O tempo pára. O mundo não gira. Um suspiro profundo e nossas almas se reencontram como se fosse a primeira vez.

No microscópio, Aline Gama

15.12.08

A Cidade Partida por Madonna

Atravesso a rua depois de ver as filas e muitos vestindo preto. Pergunto a vendedora o preço da camiseta. Vinte reais, quer? Faço que não e sigo. Ouço que o ingresso custa 700 reais uma hora da tarde. Sei que foram adquiridos por 300 em 7 horas de fila.

No percurso de mil setecentos e setenta metros da ciclovia que cerca o complexo do Maracanã, cerveja custa 3 e refrigerante 2 reais. Tem pipoca, churros, churrasquinhos e cachorros-quente. Aqui muitos se transformam em releituras de Madonna.

Os vendedores e os cambistas vestem a camisa para ganhar um trocado. O pai com o filho menor nos ombros de mãos dadas com a menina de mão dadas com mãe. Os adolescentes barulhentos na grade de entrada ensaiam seus hits. A menina punk de cabelos rosa e piercing. Os pit boys já bêbados dividindo o ectasy. O sargento conferindo sua tropa, “Carlos, Daniel, Divaldo...” Os viadinhos falam em bom tom sobre o sexo da noite anterior denegrindo sua imagem. Os ambulantes devorando suas quentinhas de alumínio com feijão, arroz, um à milanesa (do tamanho da minha mão aberta) e batatas fritas.

Madonna parte a cidade entre o carioca que trabalha e o carioca que se diverte. É o carioca pobre que se molha na chuva. É branca, moreninha, gorda ou patricinha. É negro, ruivo, branco, afetado e mauriceba. É a carioca rica que molha a mão do guarda.

Madonna é a loura gelada em um Rio de Janeiro sem sol.

No boteco, Aline Gama

11.12.08

8.12.08

Rocinha

- Meu irmão, tava te procurando...
- Fala! Tudo tranqüilinho?
- Vai ter show do Ja Rule lá perto de casa, na quadra da Rocinha. Não tá a fim de passar o sábado lá em casa?
- Pô, já é...Quanto tá?
- Lá de casa, da laje, dá para ver o show perfeitamente, tomar umas cervas e ainda curtir o visual. Não vai deixar passar essa, vai?
- Não parceiro, tamo junto e misturado...
- Demoro, me liga quanto tiver chegando que desço para te pegar para você não se perder...
- Valeu!

Do boteco, Aline Gama

4.12.08

Cariocas

"Cariocas são bonitos. Cariocas são bacanas. Cariocas são sacanas. Cariocas são dourados. Cariocas são modernos. Cariocas são espertos. Cariocas são diretos. Cariocas não gostam de dias nublados.

Cariocas nascem bambas. Cariocas nascem craques. Cariocas têm sotaque. Cariocas são alegres. Cariocas são atentos. Cariocas são tão sexys. Cariocas são tão claros. Cariocas não gostam de sinal fechado".

Definido por Adriana Calcanhotto

No microscópio, Aline Gama

1.12.08

Almoço de família

Cena um: tomada de almoço de família, ninguém conversa, mas estão todos fazendo alguma coisa e o som é das atividades: a menina passa o guardanapo na boca e faz hum, a outra menina abre a panela para pegar mais um pouco de massa, o pai abre o vinho, a mãe coloca o prato da sua mãe (avó da menina) e a avó só observa e espera seu prato ficar pronto.

Cena dois: Enquanto todos comem, a mãe fala – Então, mamãe, vamos ter que mandar a moça que trabalha em sua casa embora! – Por que minha filha? – Mãe, ela está na sua casa tem três meses, não dá conta de todo o trabalho e ainda está roubando sua comida... – Mas ela cuida tão bem de mim! – Mamãe, não é o suficiente! – Minha filha deixa ela ficar, eu gosto dela e ela rouba tão pouco...

A menina, que passou o guardanapo na boca e fez hum, dispensa a sobremesa para não achar que a vida é doce e corre para o caderno de anotações e escreve: “mas ela rouba tão pouco”, vovó.

Do boteco, Aline Gama