Atravesso a rua depois de ver as filas e muitos vestindo preto. Pergunto a vendedora o preço da camiseta. Vinte reais, quer? Faço que não e sigo. Ouço que o ingresso custa 700 reais uma hora da tarde. Sei que foram adquiridos por 300 em 7 horas de fila.
No percurso de mil setecentos e setenta metros da ciclovia que cerca o complexo do Maracanã, cerveja custa 3 e refrigerante 2 reais. Tem pipoca, churros, churrasquinhos e cachorros-quente. Aqui muitos se transformam em releituras de Madonna.
Os vendedores e os cambistas vestem a camisa para ganhar um trocado. O pai com o filho menor nos ombros de mãos dadas com a menina de mão dadas com mãe. Os adolescentes barulhentos na grade de entrada ensaiam seus hits. A menina punk de cabelos rosa e piercing. Os pit boys já bêbados dividindo o ectasy. O sargento conferindo sua tropa, “Carlos, Daniel, Divaldo...” Os viadinhos falam em bom tom sobre o sexo da noite anterior denegrindo sua imagem. Os ambulantes devorando suas quentinhas de alumínio com feijão, arroz, um à milanesa (do tamanho da minha mão aberta) e batatas fritas.
Madonna parte a cidade entre o carioca que trabalha e o carioca que se diverte. É o carioca pobre que se molha na chuva. É branca, moreninha, gorda ou patricinha. É negro, ruivo, branco, afetado e mauriceba. É a carioca rica que molha a mão do guarda.
Madonna é a loura gelada em um Rio de Janeiro sem sol.
No boteco, Aline Gama
Um comentário:
...que bom!!!Ufa!!!Você voltou a nos brindar com suas percepções e impressões onde pode-se ler um pouco de você...
Postar um comentário