10.5.09

Da janela


Do meu canto de trabalho, ouço o choro de uma criança ainda pequena. Um vizinho que chegou ao mundo há mais ou menos um ano. Em alguma janela de madeira ou alumínio com cortinas ou persianas, por detrás de alguma parede bege, branca ou de ladrilhos, o choro cresceu.

Quando estava entretida entre palavras, imagens e referências que devia escolher para escrever a dissertação, a apresentação e o contato com a banca de defesa no início de zero oito, o choro, que era fino e estridente, vinha de um recém-nascido. Ao lado do choro, imaginava a voz de uma mãe que em plena madrugada tentava compreender seu filho. “Eu estou aqui!”; “O que você tem?”; “Eu sei que doi viver”; “Eu estou aqui!”...Colo, imagens em preto e branco ainda difusas, coração batendo perto do ouvido, leite vindo do peito e silêncio.

O choro vizinho com o passar dos meses ganhou outro tom, mais encorpado e grave, menos freqüente e demorado. Em zero nove, não há choro todos os dias, mas o reconheço como um vizinho achegado sem nunca tê-lo visto. Seu choro nos aproxima, ainda tenho que decidir palavras, imagens e referências. Intimamente, desejo sentir um choro meu, olhando e desejando a mim.

Imagino, agora, um tombo, uma birra, um biquinho de quem faz charme para conseguir o que quer e, pronto, chora e desperta meus instintos...Mais uma vez, colo, imagens coloridas, coração batendo perto do ouvido, objeto do choro conquistado e o silêncio que nos une.

Aline Gama
Foto minha do meu canto

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