12.2.09

Entre fios – parte I

Recebo o convite depois desse post para ir ao SAARA e penso, porque sou abusada, que é uma boa oportunidade de transformar ele em um informante sobre essa cidade que para mim é Maravilhosa e Partida.

Assim, diferente da relação estabelecida nos últimos anos, no caminho para encontrá-lo, penso que ele tem pós-doutorado na França, conhece mais cidades e fala mais línguas que eu, se define como Sociólogo Urbano e sua primeira publicação é de 1986. Penso também se li alguma coisa parecida com o que pretendendo fazer. Muitos escreveram sobre pesquisar em sua própria cidade e da relação proximidade e distância, que oscila quando vamos em busca de conhecer algo através de alguém que julgamos próximos. Mas quando se tem admiração, como proceder, que técnicas usar, como não errar...

Pertencemos à mesma cultura e vivemos na mesma cidade há alguns anos. Ele nada sabe que será mais que um encontro e eu ainda estou em processo de formulação do que fazer durante e depois do passeio. As dúvidas surgem: vou só observar, o que devo perguntar, que horas e quando, tiro um caderno de campo para anotações, devo contar a ele, como e quando.

- Oi, quanto tempo? Quase não te reconheci de boné! (nos abraçamos) Você está todo suado!
- Esse sol absurdo! Também são 11h30, já dei algumas voltas e você me disse que vinha mais cedo.
- Desculpa o atraso.
- E ai, aonde vamos?
- Não sei. Hoje, você vai me guiar! Não conheço e não sei nada.
- Venho aqui algumas vezes como exercício profissional e também por necessidade de compras. Você encontra de um tudo aqui, qualquer tipo de mercadoria e pessoas das mais diferentes origens. É sempre impressionante!
- Hum, você vai ser meu informante!


Estamos no dia 14 de janeiro, época em que o Rio de Janeiro recebe muitos turistas e que muitos trabalhadores tiram férias por ser Verão e mês de férias escolares. Como é um dia comum, sem proximidade com feriados e festas, o público que circula pelo bairro do Centro é em sua maioria de pessoas que veem até a região para trabalhar que são jovens e adultos até a faixa de 60 anos. Vimos trabalhadores de diferentes níveis: homens e mulheres vestidos como executivos com calças sociais, camisas sociais, blasers e vestidos; homens e mulheres vestidos como ambulantes com bermudas, t-shirts, tops e jeans; e alguns estrangeiros que são percebidos pela cor de pele e cabelos e pela conversa em espanhol.

- Tá... A primeira coisa que quero te mostrar é essa vala de esgoto que passa do lado dos camelôs. É um cheiro horroroso e as pessoas trabalham assim. Não reclamam*. Eu venho aqui, vejo isso e outras coisas que vou mostrar depois e penso que essa cidade não tem jeito. É lamentável! Quero te mostrar coisas da arquitetura, vamos seguir por aqui...

A frase – “essa cidade não tem jeito” - me corta a alma, ainda mais vindo dele. Sou jovem demais para aceitar. Penso que o Rio tem um jeito que é nosso e que nesse jeito é possível existir e ser feliz. No entanto, nós - pesquisadores ou não - ainda estamos descobrindo qual é esse nosso jeito e, principalmente, como funciona e quando para que possamos ser melhores do que ontem. Essa sim é a minha grande questão!

*link para o vídeo de uma outra vala de esgoto que vi quase um mês depois (09.02.2009) e que me deu coragem para escrever.

Aline Gama

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