27.4.09

O Sagrado no futebol

Passa pela roleta, beija o ingresso e o escudo da camisa. Sobe a rampa rezando o Pai Nosso e pára para brigar com a estátua do jogador do time adversário: “ta pensando o que? seu time não vai ganhar, não!”. Dá uns tapas na escultura de bronze e cospe na estátua que é apenas a imagem do rosto de Mané Garrincha. Caminha em direção a arquibancada expressando toda a sua raiva. Antes do fim da rampa de acesso a arquibancada, pára, faz mais uma prece e entra com o pé direito para olhar o campo.

Na primeira falta, fala para si mesmo “puta que pariu, esqueci!!!”. Puxa a carteira do bolso e tira do compartimento destinado a cartões de crédito, imagens de São Jorge, Santa Rita de Cássia, Santo Expedito, Nossa Senhora da Aparecida, Jesus Cristo, Nossa Senhora de Fátima e São Judas Tadeu.

O juiz marca o ponto da bola e conversa com o jogador. Ele beija cada uma das imagens e pede ajuda. O juiz caminha e marca a linha da barreira. Ele abre todos em forma de leque com uma mão, apontando as imagens dos santos para o gramado, vira cabeça em direção a torcida para não ver e pressiona os olhos com os dedos da outra mão e reza. O juiz apita, a barreira levanta, a bola passa por baixo e entra no gol. Ele xinga, pula de raiva e olha para os santos, beija cada um e grita, olhando para as imagens “vamos lá, caralho!!!”

Antes de virar de novo os santos para o gramado, me mostra “esse foi o último que ganhei!”. A imagem é de São Judas Tadeu. “Ele é que vai ajudar o Mengão, hoje!”. Segura firmemente todos os santos virados para o campo durante todo o jogo. A cada falta contra o Flamengo, beija São Jorge, Santa Rita de Cássia, Santo Expedito, Nossa Senhora da Aparecida, Jesus Cristo, Nossa Senhora de Fátima e São Judas Tadeu. Confia a eles a jogada e reza sem ver. O jogo termina. “Esqueci dos Santos. Eu não posso esquecer!!! Você tem que me lembrar. Se eles tivessem visto o jogo desde o início, não tínhamos empatado”.

Aline Gama

Um comentário:

Bianca disse...

=)