Domingo último, dia em que se comemora a Independência do Brasil, o jornal que chega a minha casa traz na capa uma foto de um grupo de pessoas caminhando na orla do Rio de Janeiro. A notícia sugere que os praticantes de exercícios trocam esteiras e bicicletas ergométricas pelas ciclovias e espaços de lazer da cidade e optam pela atividade em grupo por causa da tão assustadora e ameaçadora violência.
Até aonde investiguei, as academias começaram a ocupar as pistas e a orla da Cidade Maravilhosa para ampliar seu mercado e proporcionar a prática de exercício aliada à paisagem, ao sol e ao banho de mar. Em alguns casos, o grupo sai das salas de musculação, supervisionado por um professor, como parte de um treinamento e não como prevenção a violência como induziu o jornal, que segundo a Associação Nacional de Jornais está entre os dez maiores do país.
Não há na notícia nenhum depoimento, suspiro e exclamação sobre o divertimento e o lazer proporcionado pelos exercícios ao ar livre. Li somente reclamações e lamentos de pessoas que sofreram algum tipo de violência. Não que não exista furtos, assaltos e a absurda falta de policiamento em toda a cidade, mas não é a violência que levou grupos de academia para ciclovias. É a beleza do Rio de Janeiro que convida à pratica de exercícios na orla, em praças e montanhas.
O jornal nos vende o medo, nos diz o que pensar e como pensar a cidade que escolhemos viver. A partir disso, sugere hesitarmos algumas vezes antes de sairmos para caminhar, andar de bicicleta e correr pela cidade. É claro que precisamos de atenção com horários, locais e objetos porque estamos em uma cidade grande que não é devidamente policiada e noticiada, principalmente.
Leia mais:
Antunes, L. “Amigos de Corrida, uma forma de evitar assaltos”. O Globo 07.09.2008: p.35.
Becker, H. S. “De que Lado Estamos?” In: Becker, H. S. Uma teoria da Ação Coletiva. Rio de Janeiro, Jorge Zahar: 1977.
Dreier, P. “How the media Compound Urban Problems”. Journal of Urban Affairs 2005; 27(i.2): 193-201.
McCombs M, Shaw DL. “The Agenda-Setting Function of Mass Media”. The Public Opinion Quarterly 1972; 36 (i.2): 176-187.
No microscópio, Aline Gama
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