Durante quatro meses em 16 manhãs de quartas-feiras, o despertador me acordava e eu reclamava pelos minutos a mais que queria ter ficado na cama. Não era possível atrasar. Ligava o rádio, comia chocolate e chegava na sala de aula. O meu silêncio nas rápidas duas horas me assustava. Era só ouvidos atentos, anotações e interrogações. Por quê? Como? O que quer dizer isso? Voltava para casa andando num movimento de auto-organização de questões.
Há alguns dias, depois de meses tendo pesadelos com notas, avisos, e-mail, telefonemas, fui pegar o conceito A. Se soubesse, dava cambalhotas de felicidade.
Ontem, escreveram para mim em um e-mail que me veio como uma música: “estou bem melhor das tonturas, obrigada”.
Sempre que conquisto alguma coisa costumo agradecer e às vezes estranho a mim mesma: “Por que devo agradecer se lutei, estudei, dei o meu sangue, corri atrás e suei a camisa?”
O conceito A, a idéia boa, o Tai Chi sincronizado, a cura pela massagem nas pernas que um dia foram roxas, na coluna que não conseguia ficar em pé sem doer, tudo são como ondas bem surfadas. O movimento, que não é meu, é apenas trabalhado pelo meu coração, mente, mãos e pés. Obrigada, muito obrigada!
Leia mais:
Velho, G.(org) Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro, Jorge Zahar: 2004.
No microscópio, Aline Gama
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