É possível pensar que a expressão Cidade Maravilhosa foi construída aos poucos, desde a colonização, nas conversas e nas histórias que vieram da concepção de um Éden Tropical com as praias, as lagoas, as montanhas, a temperatura amena, as florestas e o seminu dos habitantes.
Na Reforma Passos, o Rio de Janeiro abre os tempos eufóricos de uma Belle Époque à moda brasileira. A cidade moderna entusiasma escritores do início do século XX. Novo urbanismo, nova paisagem, novas aspirações e inspirações possibilitam reinventar a sua nomeação, criando imagens reais e imaginárias.
Segundo algumas pesquisas, o termo foi usado primeiramente pela poetisa francesa Jeanne Catulle Mendès que visitava a cidade. O livro “La Ville Merveilleuse” reúne uma série de poesias sobre a estadia dela durante novembro de 1911. A série obedece a uma ordem que vai desde a sua chegada “Arrive dans La Baie de Guanabara” até a sua despedida da cidade “Adieu”. Todas exaltam a cidade esplendorosa, a beleza das paisagens da natureza, a luz do céu azul claro, o ar fresco e os momentos de contemplação vividos pela poetiza.
Outras pesquisas, mostram que o sinônimo de Rio de Janeiro, que virou título de marcha de carnaval e hino oficial da cidade, foi criado pelo escritor maranhense Coelho Neto quando publicou seu artigo “Os sertanejos”, no jornal “A Notícia”, em 1908. Posteriormente, Coelho Neto também publicou um livro chamado “Cidade Maravilhosa” que teve sua primeira tiragem em 1928. Na "Cidade Maravilhosa! Cidade sonho, cidade do amor" o casal do romance seria feliz. Em 1934, André filho compôs a música e a inscreveu para o concurso de marchinhas de carnaval de 1935, cantada por Aurora Miranda, que ficou em segundo lugar. A marcha vitoriosa foi "Coração Ingrato", de Nássara e Frazão, na voz de Silvio Caldas.
No entanto, em pouco tempo é a “Cidade Maravilhosa” que se torna à canção dos cariocas, tocada em momentos de alegria ou entusiasmo cívico. No dia 25 de maio de 1960, o vereador Salles Neto aprovou na Câmara a adoção da marcha de André Filho como hino oficial da cidade. No mesmo ano, contraditoriamente, o Rio de Janeiro deixa de ser a capital federal, função exercida desde 1763, que é transferida para Brasília.
A canção nos remete a beleza dos trópicos, mas temos em seu oposto os problemas humanos que nos acompanham também desde os relatos de colonizadores, nas crônicas e notícias dos jornais, na música e literatura. Há uma contraposição entre a exuberância de florestas e a ausência de civilidade da população nativa, fora dos padrões europeus.
Com o surgimento da favela, o Rio de Janeiro ganha um espaço simbólico para descrever seus problemas e dividir a cidade em duas. As primeiras construções em morros acontecem no ano de 1881! No início do século XX, a favela já é percebida como uma cidade à parte. A Reforma Passos não a inclui! Talvez por ser incipiente, possivelmente por interesses políticos e econômicos. Atravessamos mais que um século e apontamos as armas sem resolver a questão. Espero com as eleições que consigamos mudar o rumo da história que eu já contei aqui.
Leia mais:
Almeida AGd. Maravilhosa e Partida: representações do Rio de Janeiro no telejornalismo local. Saúde Pública. Rio de Janeiro, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca: 2008.
Mendès JC. La Ville Merveilleuse. Paris: E. Sansot & Cie;1913.
Neto C. Cidade Maravilhosa. São Paulo: Compania Melhoramentos; 1933.
No microscópio Aline Gama
2 comentários:
Aline,
passei pra visitar o blog e adorei, vou te passar o meu por email e te contar algumas coisas sobre Rio de Janeiro, que tenho trabalhado.
Um abração. Show de bola.
Adorei seu blog e sua visão da cidade. No meu blog eu tenho posts falando sobre o Rio também.
Um abraço,
David.
Postar um comentário