Foi notícia na sexta, dia 05 de março, no SBT-Rio, que uma quadrilha de assaltantes foi presa. Nas filmagens, os quatro homens tinham marcas de tortura. Antes de serem achados pela polícia, foram pegos pelo tráfico e torturados, pois o assalto que vira notícia, como todos nós sabemos, prejudica o comércio de drogas nas favelas próximas porque chama os policiais a ação. A polícia, além de inibir os negócios, pede arrego* para não acabar com o tráfico local. Sendo assim, a lei do tráfico é: atrapalhou os negócios, paga com tortura ou muitas vezes com a própria vida como aconteceu com os dois assaltantes de André. Segundo a mesma notícia, eles também foram mortos pelo tráfico.
Ao conversar com qualquer morador de favela do Rio, ele pode contar que os traficantes sabem quando a polícia vai agir. Eles se preparam para o confronto, escondendo aonde podem a maioria das drogas, informações dos negócios e armamentos, deixando que a polícia apreenda alguma coisa. A polícia mostra nos jornais, que também foram avisados da ação policial, as armas, as drogas, os números de presos e mortos.
Mas a ação quase nunca resolve a questão porque é pontual. O comércio se restabelece rapidamente. Quando a polícia sai do local, novas drogas e armamentos são adquiridos através da corrupção que se espalha por toda a cidade. Os traficantes, crianças e adolescentes mortos, que viram números nos institutos de pesquisa, são substituídos.
Gráficos estatísticos extremamente complexos cruzam informações de faixa etária com cor da pele, profissão e local de moradia para dizer que o comércio, que continua ilegal, continua matando. Com tais informações, os institutos elaboram novos projetos, financiados pelo governo, que se propõem a continuar a contagem do número de mortos em detalhes sórdidos. O mesmo governo também financia a inteligência e a força policial. O dinheiro do financiamento é adquirido com empréstimos internacionais que serão pagos com os impostos.
Além de pagar pela ação da polícia e pelos institutos de pesquisas, também pagamos as ONGs e os tratamentos de saúde daqueles que não morreram, mas sofreram física ou psicologicamente com a violência cometida. Os adolescentes e crianças que ganham R$500,00 em uma semana, pagam o arrego dos policiais e sabem que se forem pego não ficarão presos, não trocam a curta vida do tráfico por bolsa família, bolsa escola, bater lata, dançar ou jogar bola em alguma ONG. O governo, que financia ONGs, institutos de pesquisas e ações policiais, não tem verba para competir com o apelo financeiro do tráfico.
No entanto, institutos de pesquisa e inteligência policial já adquiriram conhecimento do território, dos diferentes agentes e locais de ação do tráfico, mas não propõem novas estratégias de ação. Assim, o modo de produção industrial do tráfico continua. Se há alguma inteligência, ela é usada para manter essa rede de produção e comércio, pois usar armas e diferentes tipos de violência física para combate está longe de ser uma medida eficiente.
Aline Gama
* tipo de suborno usado pelo tráfico com drogas e dinheiro para o policial não prender e impedir a venda de drogas.
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