30.3.09

“Quando os gatos saem, os ratos fazem a festa”

Estou caminhando pelo bairro onde moro como exercício para o físico e para alma. Ouço música, canto e penso em solucionar os problemas do mundo. Os meus primeiros, é claro! Por mim passam pessoas de todos os tipos, exercitando-se ou não.

Em um determinado momento, vejo duas meninas com jeans e mochilas, que devem estar a caminho ou saindo do colégio ou da recém iniciada graduação. Elas conversam e caminham devagar. Em mais algumas passadas rápidas, sei que as ultrapassarei.

Antes de mim e de frente para elas um menino negro, vestindo uma camisa suja e listrada, uma bermuda e descalço, vai de encontro e fala para elas alguma coisa, que o fone de ouvido me impede de escutar. Sinto um calafrio, um susto. É um assalto ou um pedido de dinheiro? Que diferença faz mesmo?

Meu coração acelera ainda mais. Eu tremo. O fone de ouvido toca uma música que não ouço. Quero correr e chorar, mas continuo. Rapidamente, pego o celular e penso no telefone da polícia. Não lembro. Não sei. Não uso. Chego mais perto. Passo por elas e não as vejo abrir a mochila. Continuo, olhando para trás. Elas respondem e passam pelo menino. Olham para mim. Sabiam que eu estava de olho. A conversa e a caminhada delas continuam. A minha também.

Penso que na próxima curva vou chegar no carro da polícia que sempre está lá. Caminho rápido e não encontro. É hora de almoço. Todos temos direito, mas poderia existir escala. O velho ditado se cumpre.

Aline Gama

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