13.8.08

Juras de amor pela cidade e à cidade

Tenho ido a muitos casamentos. No último, o pai da moça estava muito emocionado. Mãos tremulas apertando as da filha, em seu belo vestido branco e buquê de flores vermelhas. Elegante e ousada. Os olhos dele cheios de lágrimas que não desceram no caminhar pelo tapete até a entrega ao noivo diante da juíza de paz. Logo ele, que sempre soube das coisas do coração, mas nunca se deixava levar por um aperto no peito ou pelo ritmo descompassado diante das coisas da vida.

Abraços apertados, beijos e afagos nunca fizeram parte das expressões do pai da moça, doutor em coração, como demonstração de carinho. Vinha dele palavras e gestos nem sempre compreendidos e muitas vezes duros, mas imbuídos do desejo absurdo e sincero de ver as meninas lutarem pela tão desejada felicidade. Estava ele ali, o pai da noiva, também realizando um sonho na Confeitaria Colombo.

Apesar das cerimônias terem rituais bastante parecidos e os números de 2006 mostrarem que só o Rio teve 27mil e 544 registros de união civil, os casamentos de hoje não são mais como muito antigamente. A recém-mocinha tinha seus dotes negociados com a família do rapaz. A infância pulava diretamente para a vida adulta da noite para o dia, em plena lua de mel. O ritual religioso era realizado em Igrejas, Capelas e Sinagogas. A comemoração dava-se na casa dos pais da moça ou em local alugado pela família que recebia as congratulações dos convidados por terem conseguido casar a filha.

Hoje, os casais trocam alianças a qualquer idade sob ou sem o rigor das Leis Divinas e dos Homens. Importa o desejo, a coragem e o amor. A Cidade Maravilhosa abre seus pontos turísticos para que ali bem perto do céu, no Morro da Urca e no Cristo Redentor; ou no Museu de Arte Moderna e em outros patrimônios históricos; ou ainda no meio da Baia de Guanabara, em plena Ilha Fiscal, existam também juras de cuidado e fidelidade nos dias vindouros, como uma prova de amor também à cidade.

Leia mais:
ARIÈS, Philippe. Historia social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
FERES-CARNEIRO, Terezinha. Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 11, n. 2, 1998.
GOMES, Isabel Cristina; PAIVA, Maria Lucia de Souza Campos. Casamento e família no século XXI: possibilidade de holding?. Psicol. estud., Maringá, v. 8, n. spe, 2003.
NORGREN, Maria de Betânia Paes et al . Satisfação conjugal em casamentos de longa duração: uma construção possível. Estud. psicol. (Natal), Natal, v. 9, n. 3, 2004.
IBGE – Cidades: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php

No microscópio, Aline Gama

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