O designer Fred Gelli escreveu na coluna “O RIO da gente” que a cidade, leia-se a orla da Zona Sul, está inundada pelo lixo. Baseado nas mudanças com a Lei Seca, sugere a criação de uma lei com multas e penalidades para aqueles que sujam a cidade. Acredito nas boas intenções do rapaz e concordo que precisamos de uma cidade mais limpa.
Para reforçar seu argumento, o designer compara o Rio com a Suécia e Cingapura, que possuem leis para tais faltas, mas esquece de dizer que a população de ambos países – e não cidades - é infinitamente menor, que o nível educacional é maior e, ainda, que diferenças culturais existem. Em números de 2006, a população da Suécia é de 9,08 milhões e a de Cingapura 4,48. Ambas com 100% da população com nível secundário completo.
Só a cidade do Rio, caro Fred, tem 6 milhões de habitantes, com o percentual de 5% de analfabetos. Não preciso colocar em questão o nível educacional daqueles que chegam à graduação.
Além disso, há diferenças culturais! Na Suécia, a população tem o hábito de limpar e organizar a própria vida, porque as empregadas domésticas são caras. O governo sueco supre a população com Saúde e Educação. O espaço público lá é pensado como um bem-comum.
Então, podemos supor que a cultura do cuidado com a casa se estenda às ruas e que as leis lá devem servir para turistas?! Por falta de leis que proíbam, você também joga o lixo nas ruas e praias ou procura a lixeira mais próxima?
Precisamos, além de leis, de uma transformação do entendimento de que o público deve ficar por conta do governo. Somos responsáveis por ruas e praias que continuarão sendo nossas depois do domingo de sol e do clássico do futebol. Não precisamos só de leis, mas de uma conscientização de que o Rio é de cada um de nós.
Mais:
DaMatta, R. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
ONU - World Development Indicators database, April 2008: http://www.onu-brasil.org.br/
IBGE – Indicadores Sociais: http://www.ibge.gov.br/
Suécia: http://www.sweden.se/
Resposta ao "Cidade inundada pelo lixo", O Globo, p. 4, 05.08.2008.
No microscópio, Aline Gama
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