- Gostaria de ter visto a abertura com você. Achei sem graça...
- É difícil entender a China!
- A Sônia Bridi conhece um pouco, não? Ela morou lá...
- Talvez, mas ela não falou nada de interessante...
- Hum...
[Ajudo a família a trazer estantes, mesa, geladeira, caixas e mais caixas para o novo local de moradia de frente para Afonso Pena. Vejo na praça um grupo devidamente uniformizado com calças pretas e camisas brancas escritas "Projeto Tai Chi Chuan nas Praças". À frente do grupo está um homem alto, grisalho, mais afro-descendente que eu e uma voz de trombone para acordar a vizinhança. Prometo a mim mesmo que um dia vou acordar de madrugada, colocar calça preta e blusa branca e reaprender.
Na primeira semana, terça, quarta, quinta e sexta. Eu, o despertador e a vontade estamos em conflito. Segunda a noite, separo a roupa e não acordo. Passa o primeiro mês e nada. Segunda semana do segundo mês, segunda, terça não acordo, quarta-feira, 12 de outubro de 2005, coloco sandálias e desço. Dou bom-dia ao Gonçalo e atravesso portaria e rua.
O professor olha para os meus pés. Você devia ter vindo de tênis! Pratico Tai Chi ali com eles, só que descalça. O professor questiona se machucou. Digo que não, mas... Finco meus pés e a energia da Terra e do Céu, do Sol e da Lua, que tomam o meu corpo, ao Tai Chi e sua filosofia. A medida que dou passos pelo caminho, abro o pergaminho da vida, sobrescrevendo os mesmos movimentos milenares com pés, dedos e mãos.]
- Mais um chope?
Do boteco, Aline Gama
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