Em uma quarta-feira, há uns quatro meses, tinha uma chata tarefa para resolver no Centro. Bairro do Rio de Janeiro que não fica no centro geográfico da cidade (basta dar uma olhada no mapa ao lado).
Resolvi então “pegar um cineminha” por lá para tornar o trabalho – banco e espera, procuração e fila, mais fila para carimbo - menos árduo. Fiz um convite que foi seguido de uma série falas. “Mas é filme de quê?”, “Esse horário lá no Centro tem muito tarado! Não é perigoso?”, “Tem cena de sexo?”, “Nunca gostei de ir ao cinema lá!”, “Você vai sozinha? Não é perigoso?”.
No caminho para o filme “Era uma vez...” as explicações. Há uns vinte anos, alguns cinemas do Centro passavam filmes pornográficos e as sessões não eram freqüentadas por senhoras distintas, homens de respeito, famílias, crianças e estudantes. Outras eram as categorias que qualificavam tais freqüentadores.
Na porta do cinema os primeiros gestos de surpresa com a fila, o microfone, os computadores, a impressora do ingresso, o refrigerante, a pipoca e a cadeira iguais a qualquer outro cinema. Só que ali pertinho da rua, no caminho da tarefa e ao alcance dos pés estava o Cinema Palácio sem concorrer com corredores de lojas, ar condicionado e luzes brancas.
Outro dia, mais uma incumbência árdua no Centro. Abro o caderno de cultura do jornal e está escrito FECHADO.
No microscópio, Aline Gama
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