Depois de algumas trocas de e-mails conversando sobre trabalho, marcamos local e horário. Em uma das linhas percebo que talvez tenha recebido uma chave “como não nos conhecemos, uso óculos, aro vermelho”.
Podia ter escrito seu nome na busca do Google ou do Lattes. Algum filme ou foto revelaria sua imagem com um simples toque no mouse, mas não fiz e não quis. Apenas sabia das suas palavras e frases em artigos e referências acadêmicas. Isso me bastava...
Também não respondi tenho olhos castanhos ou sou magra e morena ou sou tímida e medrosa. Não falo, observo, observo e observo até encontrar um caminho para me expressar em imagens, poemas, conversas e olhares. Minhas palavras e frases você já conhecia e felizmente aceitou o encontro.
Pensei e hoje tenho certeza que os óculos, aro vermelho destacam o mundo visível. É o círculo vermelho em torno do café, da água com gás, das ervas e das lindas latas do chá. Do garçom, do texto marcado à lápis, das fotografias de dor e de O Grito. Da blusa verde e calça branca, do lenço rosa e calça jeans. O vermelho em torno das pessoas que passam e de tudo o mais que passará...
Leia mais:
Goffman, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, Vozes: 1975.
No microscópio, Aline Gama
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