Levanto, aperto a campainha e ando para descer do ônibus que faz a curva, freia, para e abre a porta. No caminho entre levantar e descer, vejo perto de um poste de luz, apagado, um grupo de pessoas mexendo naqueles sacos pretos de lixo. São 23h41, mostra o visor do meu celular antes d’eu sair do ônibus. Penso: meu Deus, vou morrer!!! Fecho o casaco, como se me protegesse. Continuo? Sigo? Para onde e por que? Vou ser assaltada, estuprada, devorada! O que eles estão fazendo ali essa hora?
Lembro: estão na calçada onde existem três restaurantes. Um japonês, uma pastelaria chinesa e um McDonalds que já fecharam suas portas, trancaram suas grades e ligaram seus alarmes.
Atravesso e acelero meus passos.
A busca daquelas pessoas abaixadas, rasgando sacos pretos de lixo, é por comida. Não é uma tribo de esfomeados da Etiópia, não são as famílias do distante nordeste brasileiro e muito menos marcianos verdes abduzidos para o planeta Terra em plena Cidade Partida. Estão na minha passagem e são daqui!!!
Meu estomago embrulha. Me sinto menor do que um grão de ervilha. Revejo meus desejos, sonhos, conceitos e caminhos.
O que eu estou fazendo aqui essa hora? Qual era mesmo a festa que me divertia e da qual eu vinha???
Quero chorar e não consigo. Quero parar. Quero não ver o que me dói. Corro de mim mesma. Quero dormir para poder sonhar! Quero um carro para poder subir os vidros, ligar o ar condicionado no calor, aumentar a música e cantar bem alto para ninguém ouvir...
Aline Gama para J.C.R.
Um comentário:
Surreal.
a miséria é nossa vizinha!!
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